A supremacia do Logos sobre o Eros

INTRODUÇÃO

Quando estudamos sobre a origem da política, vamos encontrar na Grécia antiga a gênese de conceitos tão comuns e difundidos nos dias atuais: Política, Assembléia, Ativismo, Congresso, Corrupção, Doutrina, Governo, Hegemonia, Ideologia, Legislatura, Liberdade, Nação, Partido, Pátria, Parlamento, Soberania, etc.

Contudo, uma maior atenção a esses termos nos permite perceber que, ao longo da história, sofreram modificações, o que dificulta remontar o caminho para a compreensão sobre o que motiva os humanos a submeterem-se a esses tipos tão complexos de organização.

A MUDANÇA ESPACIAL E INTERIOR

As cidades do império grego, recém-nascidas nos séculos VI e V, tinham características que favoreceram o surgimento de um modo de se relacionar com outras cidades/povos totalmente sem precedentes. Com a expansão do império, novas regiões surgiam decorrentes do aumento do comércio, e núcleos organizacionais, que viriam a formar as primeiras oligarquias, apareciam em vários lugares. Eram territórios sem poder local centralizado, sem hierarquia; um arranjo no qual cabia aos homens o dever e o direito de conduzir a coisa pública. Desde então, o termo politikos começou a ser utilizado para nomear essa prática, onde o oikos, núcleo social comum a todos envolvidos nas relações domésticas de poder, fora maximizado; temos, portanto, a polis.

Segundo Aristóteles, essa organização (oikos -> polis) se dava pela necessidade natural humana de se vivenciar a existência para além do ego; pois este se estendia para o oikos e, por fim, ampliaria-se à polis. Ou seja, na prática da politiké, o homem poderia transcender-se e assim se saciar como ser.

POLÍTICA É HARMONIA

O que chama atenção nesta mudança é que somente os homens livres poderiam desfrutar da satisfação (vivenciar a cidade), pois a mulher, filhos e escravos não teriam inclinações políticas, pois estas ultrapassam o território do oikos, onde esses não têm o que buscar. Suas necessidades estão satisfeitas no relacionamento doméstico.

Pensando sobre este ponto, segundo a ótica de Hannah Arendt, podemos atribuir as distinções de vida: a vida contemplativa e vida ativa da pensadora ao contexto grego. Mulher, filhos e escravos se submetem ao domínio e território do oikos, pois vivem a vida contemplativa. Para Arendt, o pensar, o querer e o julgar são propriedades da vida contemplativa, habilidades de todos os seres; o senso comum.

Já o homem, é livre para exercer a política; a sua liberdade permite o mesmo aja politicamente (publicamente). Para Hannah Arendt, a política é da ordem da cooperação, da organização da diversidade em direção a um bem comum. Sendo assim, a ausência de domínio (poder) sobre o homem (ou seja, a liberdade) é fundamental para o exercício da política.

È necessário destacar que o poder político tanto no oikos quanto da polis, não deve ser confundido com a força ou violência. Estes pertencem à guerra e à manipulação do ser humano. Quando esses predicados estão na esfera do poder, deixamos de ter política e passamos a ter um regime autoritário ou um domínio de leis que não refletem o desejo da comunidade.

HARMONIA É CONFLITO

Cabe introduzirmos um contraponto inspirado em Thomas Hobbes: Hobbes diz que a harmonia na política é originária do conflito, pois o poder é negociado. Os homens livres cederiam sua soberania natural (liberdade, em Arendt) para que um agente (agência, no caso do Estado) regule os desejos dos demais em reivindicar para si uma soberania natural (liberdade) maior que a de outrem. Assim, o mediador de conflitos pode punir em nome de todos e da preservação da harmonia, para que a sociedade mantenha-se em comunhão; o chamado de Contrato Social.

CONFLITO É POLÍTICA

Para Michel Foucault, a manifestação real do Leviatã (apelido do Contrato Social) é a ilusão da ordem e da harmonia, que mascara a percepção de uma verdadeira pirâmide de poder.

O poder que dita e ordena o que é o saber dos homens, as suas práticas sociais - são transmitidas pelas instituições: família, escola, ciência, etc. Estas amenizam desconfortos e dão uma falsa noção de comunhão (harmonia). Assim sendo, o poder exercido sobre o povo não reside na sua koinonia, nas leis ou mesmo na violência É dentro do próprio homem, domesticado a agir e reagir conforme os ditames hegemônicos, assumindo para si uma postura oposta à sua vontade (soberania natural, liberdade).

QUESTÃO

..isso nos remete, ao oikos, onde mulher, filhos e escravos, têm suas relações “satisfações políticas” realizadas em seu próprio corpo (não livre).

- Dentre tantas análises inscientes de uma οusia da política, não seria a polis a ilusão do oikos e toda politiké uma fantasia do ego?

#Há infinitas possibilidades de ser.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOBBIO, N.; verbete “Política” in BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G.;Dicionário de Politica. Editora UNB e LGE Editora (Brasilia, 2004), vol II, p. 954.
HOBBES, Thomas. Leviatã. Ed. Martin Claret, São Paulo, 2006.
FOUCAULT, Michel. “Genealogia e Poder”. In: Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979,
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia_pol%C3%ADtica Acesso em: 30/12/2013

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