Não sei por onde começar, mas parece que
não há outro jeito, já que a errância da realidade não pode ser “abraçada”
pelas palavras. Então, de uma maneira bem espontânea, vou começar uma narrativa
tentando me fazer entender ao final dela - sem muita explicação, pois a falta
de explicação é justamente o que move esta postagem.
(..)
Terra, mar... A árvore flutua! Barco.
Transporte, comércio. Grandes Navegações. Tráfego. Brasil. Colônia. Escravos
africanos. Miscigenação. Cristianismo. Família. Rio de Janeiro.
No passado recente da minha família havia
um pai, pastor protestante, com 6 filhos. Meu avô. A filha mais velha decidiu estudar
Direito numa Universidade Federal. Fez seu doutorado na Espanha, onde conheceu
uma amiga. A amiga lhe apresentou outra amiga. Esta última trabalhava num
partido político junto com um promissor candidato à Prefeitura do Rio de
Janeiro, e veio a ser a minha chefe.
Antes da Prefeitura, trabalhamos no
Maracanã. Lá, eu atuava junto à visitação turística ao estádio, então pude
começar a praticar e me interessar mais em estudar inglês.
Minha vontade era aprender chinês - meu
amor pela Àsia é antigo; desde os Tokusatsu, Animes, Filmes de Kung Fu,
incluindo as beldades daquele lado do planeta. Contudo, aprender o “idioma mais
falado no mundo” sozinho foi impossível. Pelo menos as Artes Marciais eu
estudei, além de Reiki, mitologia e aspectos culturais japoneses.
Eu estudava Geografia na Universidade
Estadual, mas as circunstâncias políticas e propósitos pessoais me levaram a
abandonar a faculdade. Cheguei a estudar Turismo à distância, mas outra vez a “errância”
me fez deixar a academia. Por que?
O outrora Secretário Estadual virou
Prefeito e outro convite surgiu; agora de uma pessoa ligada ao Maracanã. Assim,
comecei a trabalhar no Centro de Operações Rio.
O local atraiu empresas, pesquisadores
e o poder público, interesses de vários lugares do mundo. Os primeiros a
visitarem foram os japoneses.
O novo emprego me permitiu voltar para a
universidade. Eu tinha uma dúvida na Federal Fluminense, então resolvi estudar
lá; entre Psicologia e Filosofia, decidi (mais uma vez) ser menos agressivo e
optei pelos filósofos.
Veio, também, a oportunidade de estudar japonês e,
quando o cônsul-geral do Japão no Rio foi visitar meu trabalho, eu tinha 3
meses de vocabulário suficientes para dar uma boa impressão. Depois disso, muitos
japoneses vieram do longo dos 5 anos que antecederam as Olimpíadas no Rio.
Em 2016, ano das Olimpíadas, eu estava cursando
uma disciplina chamada Ética IV. A disciplina não me interessava, queria ganhar
mais horas na faculdade e diminuir o tempo da graduação. A professora dividiu a
turma em duplas ou trios, para que os grupos pudessem apresentar um capítulo do
livro a cada aula.
Ausente no primeiro encontro, fui
comunicado que meu grupo perdera um elemento e que seria uma dupla com uma
contemporânea da filosofia. Fomos estudar na casa dela para a apresentação e
marcamos de terminar o texto na faculdade.
Eu pedi folga no trabalho para me
dedicar àquele estudo, para ficar o dia todo na universidade. Chegando lá,
minha dupla não estava. Fiquei por ali conversando com colegas até que todos
foram almoçar. Decidi ir comer também, mas não no bandejão, queria ir ao shopping
e pedir comida chinesa; cheguei a sair da universidade, mas resolvi voltar e
verificar se minha carteirinha havia crédito para pagar o almoço. Para minha
surpresa, havia mais que o suficiente, fruto de uma recarga que fiz em 2013!
Entrei na fila e procurei meus amigos
dentro do refeitório, foi aí que vi duas asiáticas sentando-se na mesa com
outras pessoas de aparência de estrangeira. Uma delas me chamou muito atenção,
então pus-me a pensar:
- Devo ou não me aproximar?
- É lícito?
- Convém?
Naquele momento, eu construí uma linha
histórica, como esta que você leu até agora, e entendi que aquela situação era
uma dádiva.
- Eu poderia não estar ali com a mesma
aleatoriedade/destinação de que estava.
Sem perde-las de vista, servi minha
comida esperando que o único lugar ao lado delas não fosse ocupado.
Me aproximei, saudei com “boa tarde” e
foquei em minha comida. A conversa entre eles era em inglês, até que o rapaz de
Timor Leste disse algo que as meninas não entenderam... algo que eu sabia em
japonês. Durante o silêncio da “falta de comunicação”, perguntei de onde eram
e, para minha surpresa (ou não), as meninas eram do Japão.
Me apresentei em inglês e em japonês; traduzi
o que o rapaz queria dizer e passei a ter toda atenção das meninas. Ao final, trocamos
contatos e ficamos de nos ver pela faculdade.
Na semana seguinte, eu vinha da Sala de
Estudos (sempre ficava lá antes das aulas) e encontrei as meninas. Marcamos de
sair todos juntos.
Durante a estada no Brasil, fomos ao
China in Box, praias de Niterói, alguns lugares do Rio e até uma pequena viagem
fizemos.
Foram as primeiras amizades, de facto, japonesas.
Hoje faz um ano que eu conheci os gringos
na universidade.
..a minha vida é assim o tempo inteiro.
Eu reconheço certas coisas e às vezes até me antecipo aos acontecimentos.
- Eu poderia ter escolhido não sentar
próximo a elas?
- Eu conseguiria fazer isso?
- Eu suportaria a tristeza e curiosidade
de não ter ido até elas?
- Eu evitaria conhecê-las em alguma outra
oportunidade?
Foi um período em que nada dava errado.
Tudo que vivi com elas parecia ter sido planejado (não por mim). Tal como o dia
eterno com Ártemis, quando até as máquinas e a tecnologia pareciam pertencer a
essa “harmonia” física e espiritual
Confesso que tenho medo de pensar assim,
mas penso há anos, principalmente depois do episódio com a deusa; tais experiências
são tão perfeitas que não consigo creditar a outrem, só pode ter sido a vontade
de Deus.
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2 Comentários
Simplesmente bom demais.
ResponderExcluirObrigado, prima!
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