O
sucesso das redes sociais em todo mundo (que tem acesso a elas), junto a
inúmeras outras ações ligadas à globalização, têm promovido mudança de
comportamentos e, principalmente, pensamento nas pessoas. Já tem sido discutida
a forma como se usa e manipula a rede; especialmente aquilo que nos é sugerido
a consumir. Assim, quando algum amigo possui interesse em determinado conteúdo
e compartilhamos de gostos semelhantes, algoritmos fazem com que postagens
“curtidas” pela nossa amizade, sejam sugeridas para nós em nosso feed. Esta é a forma com que músicas,
vídeos, imagens, textos e dados são compartilhados em todo o mundo, de forma
que o efeito da globalização venha à tona, ou seja, pessoas de diferentes
culturas e nações consomem, predominantemente, os mesmos conteúdos.
Atualmente,
se tem discutido os graves problemas ligados ao uso desse tipo de manipulação da informação;
desde a crítica em relação autonomia de um usuário buscar conteúdo ter sido
reduzida, até os reais objetivos de grandes corporações em armazenar e comercializar dados. Inclusive, líderes de alguns países, "preocupados" com a privacidade
dos seus cidadãos, tem questionado de que forma estes dados estão sendo
manipulados. Identifica-se, portanto, uma espécie de ordenamento
político/comercial quanto ao que é oferecido online.
Em defesa, as empresas argumentam
que a rede teria uma espécie de “vida própria”, estimulada pelos cookies
recolhidos dos navegadores dos usuários; estes sim, teriam o poder de decisão e
a rede “aprenderia” a otimizar essa “liberdade”. - Não se trata de uma ordem (global), mas sim uma rede caótica.
Contudo, se estudarmos as consequências sociológicas e psicológicas deste tipo de manipulação da informação, poderemos ver o quanto têm sido prejudiciais à vida em sociedade. Casos de intolerância e violência (virtual e física) contra aqueles usuários que não pertencem ao mainstream ditado pela rede tem aumentado. Muitos são os quadros de depressão e até suicídio de pessoas que foram iludidas em sua visão de mundo, pensando que a vida é, de fato, conforme as telas dos seus computadores e celulares mostram. Diante dessas coisas, o que a filosofia ou as reflexões da teologia podem nos dizer sobre este “ordenamento da vida, segundo a rede mundial de computadores”?
Contudo, se estudarmos as consequências sociológicas e psicológicas deste tipo de manipulação da informação, poderemos ver o quanto têm sido prejudiciais à vida em sociedade. Casos de intolerância e violência (virtual e física) contra aqueles usuários que não pertencem ao mainstream ditado pela rede tem aumentado. Muitos são os quadros de depressão e até suicídio de pessoas que foram iludidas em sua visão de mundo, pensando que a vida é, de fato, conforme as telas dos seus computadores e celulares mostram. Diante dessas coisas, o que a filosofia ou as reflexões da teologia podem nos dizer sobre este “ordenamento da vida, segundo a rede mundial de computadores”?
Por meio da Filosofia, identificamos na
leitura de Tomás de Aquino em A ASCESE E A MÍSTICA NO
PENSAMENTO DE TOMÁS DE AQUINO COMO O ENCONTRO DE FÉ E RAZÃO, um bom critério
para as coisas que devemos nos inclinar. Tomás afirma que a tendência natural
do homem é para o próprio Deus, contudo por “causa da lei da concupiscência,
essa lei encontra-se desordenada quanto ao
seu fim, porque perverte a finalidade última e própria do homem”. O filósofo elenca elementos dos quais devemos nos
afastar para buscarmos o que é próprio da nossa alma. Dentre os itens, há um que se assemelha a
algo que aparece com frequência nas redes sociais: as Fake News. - Atualmente uma problemática de grande importância, que
Tomás de Aquino “resolve” ao
escrever: “devemos optar pelo trabalho para evitar a ociosidade e a preguiça,
que são portas de entrada de muitas outras tentações e, também, com a aceitação
de alguns sofrimentos, não os que procuramos, mas sobretudo aqueles que nos
chegam sem a nossa deliberação” (AQUINO, T. Op. cit. §2º nº47). Essas mensagens virtuais, também chamadas de
“correntes”, geralmente nos proporcionam uma paixão (sofrimento) por aquilo
que, na verdade, nos afasta do que é próprio da nossa alma e, por consequência,
da felicidade. Outro conselho do Aquinate é: “devemos ainda nos opor às coisas
que nos rodeiam, muitas delas indignas em si mesmas, as quais se deve combater
com a guarda da vista e de todos os demais sentidos, evitando prudentemente o
seu contato”. (AQUINO, T. Op. cit. §º nº). Esta última citação, apesar de ter sido escrita há séculos atrás,
se faz atual nesta época, em as pessoas não mais se suportam (dão suporte). É
cada vez maior o afastamento da comunhão e dos seus propósitos de vida; as
pessoas estão preocupadas apenas em transmitir (broadcast) sua vida nas redes,
pois já não consideram os próximos como um círculo de amizade, mas como público,
fãs, seguidores, fiéis, etc.
Em relação a reflexão Teológica; a recente Encíclica: Laudato Si, do
Papa Francisco faz “uma breve resenha dos vários aspectos da atual crise
ecológica, com o objetivo de assumir os melhores frutos da pesquisa científica
atualmente disponível, dando uma base concreta ao percurso ético e espiritual¹”.
Apesar desta Encíclica estar relacionada à Ecologia, inclusive o Pontífice faz
menção a Francisco de Assis, que é referência para militantes deste tema, o
texto analisa a situação sociológica da humanidade e afirma que, dado a notória
degradação da natureza, é pela fé que novas motivações existenciais vêm à tona,
face ao mundo que fazemos parte. Na Primeira Epístola aos Coríntios capítulo 14,
verso 33, diz: “Deus não é [Deus de] desordem (ακαταστασιας), porém de paz; e é
isso que ele deseja encontrar em todas as igrejas”².
Para reforçar o argumento contra a
coerção das redes, devemos atentar para a conceituação de caos, pois o
argumento das grandes empresas é que a rede se comporta de forma randômica, ou
seja, não há ordem alguma, não há ordenamento; apenas um computar matemático de
algoritmos. Porém, Franz Josef Brüseke diz, na sua obra, Caos e Ordem na Teoria
Sociológica, que o conceito de caos, para ser trabalhado nas ciências, deve ser
entendido como: Estado de interferências de
ordens diferentes. Por isso, cientes do uso
adequado do conceito de caos/desordem, podemos reformular e apontar o
determinismo nocivo daquelas corporações à sociedade.
Concluímos fazendo referência a
citação que o Papa Francisco, ainda na Laudato
Si, registra de seu predecessor, Bento XVI, quando diz; “o homem não é
apenas uma liberdade que cria por si própria, o homem não se cria assim mesmo,
ele é espírito e vontade, mas também é natureza e, como tal, não pode estar
centrado apenas em um aspecto. O livro da natureza é uno e indivisível,
incluindo, entre outras coisas: o ambiente, a vida, a sexualidade, a família,
as relações sociais. A degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana”.
Para uma vida feliz e uso saudável
da rede é pertinente a recomendação de mudança de critérios levantados pela
Filosofia e Teologia aqui apresentadas. Mesmo as militâncias que atuam nas redes
sociais em favor daqueles que sofrem dos males causados pela própria rede
(apesar de que poucas diagnosticam assim), pertencem a algum ordenamento, bem
específico e interessado. Considerar o
posicionamento da Igreja Católica, os critérios levantados em Tomás de Aquino e
resgatar, dentre tantos exemplos, o que a teologia Cristã tem oferecido através
Epístola de Paulo aos Romanos, capítulo 12, versículo 2, onde diz: “Não vos
conformeis (tomar forma) com este mundo, mas transformais-vos pela renovação da
vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus”; é de vital importância para a saúde e felicidade do homem.
Postar um comentário
0 Comentários